Curso de Extensão em Economia da Cultura, UCAM

A Economia da Cultura tem ocupado cada vez mais espaço nas discussões contemporâneas, dialogando com temas candentes como desenvolvimento, políticas públicas, sustentabilidade, turismo, diversidade cultural, meio ambiente, gestão cultural e direitos de propriedade intelectual. Tema ainda embrionário no Brasil, a economia da cultura tem importância fundamental para que consigamos garantir que a cultura seja reconhecida como investimento e não despesa. Investimento em nosso valores, em nossa criatividade, na imagem de nosso país internamente e no exterior e na geração de emprego, renda e inclusão socioeconômica.
Este blog tem como objetivo aproximar os participantes do Curso de Extensão em Economia da Cultura da UCAM e incentivar o debate entre eles e os demais interessados em fomentar uma reflexão dinâmica e colaborativa sobre economia, cultura e desenvolvimento.
Coordenação Acadêmica: Ana Carla Fonseca Reis
Coordenação Executiva: Kátia de Marco
Para mais informações, visite o link: http://www.gestaocultural.org.br/html/extensao.php

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Cidades criativas e o jogo dos sete erros *

Oi, pessoal!

Detroit. Uma cidade que já foi um ícone mundial da industrialização e ainda hoje é o berço automobilístico das quatro rodas dedicou os três últimos dias a um tema estonteante: cidades criativas. O momento não poderia ter sido mais oportuno: meses após as estatísticas terem revelado que mais de 50% da população deste planetinha azul vive em cidades e semanas após a explosão de uma crise que aqui está sendo comparada à de 1929.

Os sinais começam a se fazer sentir: se no Brasil fomos surpreendidos com a corrosão do valor do real em 48% em um mês, na sede da indústria automobilística boqueabertos estadunidenses ouvem rumores de que a combalida General Motors está em vias de comprar a Chrysler e prestes a se fundir com a Ford, três titãs do setor. Resumo de uma longa e ainda desconhecida ópera da qual todos nós seremos protagonistas: parece ter chegado a hora de admitir que, de fato, o modelo econômico com o qual trabalhamos até agora e que aos trancos e barrancos tentava sobreviver, está em seus estertores. Bem, se foi este modelo que nos levou a esta crise, não será ele que nos tirará dela.

É exatamente para tentar debater novos modelos e rotas de escape que surge o tema das cidades criativas: não como epicentro dos problemas, mas de suas soluções. Afinal, são justamente os centros urbanos, pequenos ou grandes, industriais ou de serviços, de países economicamente ricos ou pobres, onde se encontra a maior concentração de talentos e criatividade por metro quadrado. É nesses locais, movidos por inventividade ou necessidade, por opção ou falta dela, que pessoas das mais diversas vertentes se encontram, interagem, convivem. E é contando com esse substrato que várias cidades tëm tentado transformar seu tecido socioeconômico, baseado em uma das poucas coisas que não são padronizáveis: sua singularidade cultural.

Tal foi o foco do Creative Cities Summit 2.0, durante o qual os palestrantes, em uníssono, mostraram-se preocupados, mas otimistas – e também foi essa a tônica da minha fala. Aquele típico otimismo que nos leva a arregaçar as mangas, escancarar olhos e ouvidos e tentar encontrar outras formas de ver uma foto e encontrar os erros no jogo de sete erros. Um deles, já flagrado com letras de néon: o excesso de investimento na ciranda financeira e não em ativos reais, embora muitas vezes tão intangíveis como a criatividade e a cultura. O efeito disso pode ser sentido aqui, onde a população despencou de 2 milhões de pessoas para 800 mil, nas últimas décadas, levando ao virtual abandono de bairros inteiros. Hoje, parte das antigas fábricas está sendo transformado em condomínios e espaços alternativos, tentando resolver dois problemas ao mesmo tempo.

Outro erro, enfatizado com tanto fervor que me senti em casa, embora aqui como aí questionado e ainda não resolvido: a tendência vista quase como natural que nossos governos têm, com raríssimas exceções, de investir cifras astronômicas em infra-estrutura e tão pouco em quem tem de lidar com elas, como aliás foi reiterado por três dos mais lidos pensadores da economia criativa: Richard Florida, John Howkins e Charles Landry, juntos pela primeira vez.

Em meio a tantas incertezas, surgem algumas conclusões. Primeira: a globalização da economia compartilhou problemas em escala jamais vista e não há como um país sair isoladamente da encrenca na qual o mundo se meteu. Nesta sopa de problemas, primeiro e terceiro mundo, indústrias, serviços e agricultura, pequenos e grandes países já se misturaram há muito tempo. Segunda: que cultura e criatividade fazem parte da resposta, tem sido crescentemente reconhecido. Afinal, se temos de arcar com os custos de uma crise, que a aproveitemos para mudar nossas prioridades. Algo que me fez estremecer, ao abrir o computador e ler que, em função da crise, o Ministério da Cultura deverá ter o orçamento de 2009 reduzido. Novos tempos, velhos dias.

* Fonte: Cidades criativas e o jogo dos sete erros. Cultura e Mercado. Ana Carla Fonseca Reis. 16/10/08. Disponível em: http://www.culturaemercado.com.br/post/cidades-criativas-e-o-jogo-dos-sete-erros/


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